ISSN 2674-8762 (online) 2674-8045 (impressa)
APRESENTAÇÃO – Educação e trabalho em tempos de pandemia
Michel Goulart da Silva*
Estamos diante de acontecimentos que marcarão a humanidade nos próximos séculos: uma pandemia que, dia após dia, infecta e mata milhares de pessoas em todo o mundo. O novo coronavírus encontrou o mundo numa profunda crise econômica e países com a saúde e pesquisa públicas fragilizadas, para dizer o mínimo, depois dos sucessivos ataques sofridos nas últimas décadas. Em todo o mundo, a solução mais eficaz para evitar um desastre completo tem sido o isolamento social, a proibição de aglomerações e até mesmo a interrupção do funcionamento de uma parcela de setores da economia considerados não-essenciais. O cenário que se tem é de medo generalizado e muita insegurança sobre o que serão não apenas os próximos meses, mas também anos ou mesmo décadas.
O mundo há séculos caminha de epidemia em epidemia, sendo uma das mais conhecidas a Peste Negra, no século XIV. O capitalismo também produziu suas próprias epidemias, como a Gripe Espanhola, no contexto da Primeira Guerra Mundial. Contudo, nas décadas recentes, mesmo diante do amplo desenvolvimento tecnológico, as epidemias parecem se tornar mais constantes, como o foi o caso do ebola e da gripe aviária. Mesmo doenças cujo tratamento é conhecido há décadas, como o sarampo ou a dengue, parecem ter se tornado inimigos permanentes diante dos sucessivos cortes no orçamento de políticas sociais.
O capitalismo é incapaz de existir sem produzir miséria e morte. O desprezo pela vida de milhares de pessoas demonstrado ao longo da pandemia por Bolsonaro e vários empresários não é uma exceção. Para a burguesia, a vida dos trabalhadores não passa de um item em uma planilha de pagamento de salários, não importando o nome ou a trajetória de vida. Para a burguesia e seus representantes, não importa quantos trabalhadores ficarão doentes ou morrerão, mas quantos estarão vivos para continuar a produzir seu lucro. Mesmo em meio a pandemia esses setores não deixam de levar vantagem, afinal governos e parlamentares vão garantindo a diminuição do custo da força de trabalho, por meio do corte de direitos, e salvando bancos e empresas, por meio da injeção de investimentos bilionários.
Esse é o contexto em que produzimos esta nova edição do Potemkin. Entre os oito textos que publicamos, dois deles discutem diretamente o contexto da pandemia, destacando, entre outros aspectos, a crise econômica, o acirramento das disputas políticas e o aprofundamento da exploração dos trabalhadores. Outros dois artigos são dedicados a reflexões sobre a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, debatendo seu perfil institucional e sua relação com a classe trabalhadora. Esta edição traz ainda dois textos que discutem os interesses privados que movem a política de Educação à Distância, a militarização das escolas e os embates em torno da produtividade acadêmica e um artigo sobre o Massacre de Ipatinga, ocorrido na Siderúrgica USIMINAS, em 1963.
Este segundo volume do Potemkin busca dar continuidade às reflexões políticas e teóricas que nosso sindicato vem promovendo nos últimos anos e que tem neste periódico seu principal instrumento. Esta é uma ferramenta para auxiliar nas lutas dos trabalhadores, que devem se aprofundar diante dos ataques a direitos e do desprezo pela vida demonstrado pela burguesia e pelos governantes. Espera-se que os debates apresentados possam ajudar os colegas da Rede Federal a refletir sobre o contexto econômico e político em que estão inseridos e sobre suas condições concretas de trabalho.
Nota dos editores: por conta do momento ímpar que atravessamos, este volume do Potemkin sofreu adaptações para ser publicado em versão online no menor tempo possível, preservando a relevância dos textos selecionados. Uma edição em formato impresso, por ora, permanece apenas nos planos para o futuro.
* Michel Goulart da Silva realizou estágio pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), é doutor em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Técnico em Assuntos Educacionais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense (IFC). Editor da publicação.
Textos individuais da edição (em .pdf):
APRESENTAÇÃO | Educação e trabalho em tempos de pandemia
Michel Goulart da Silva
Pandemia do Coronavírus: tempos de recrudescimento da coerção e decadência do capital
Luiz Carlos de Almeida Batista Pustiglione
O velho e o novo nos Institutos Federais: Um conflito que perdura
João Carlos Cichaczewski
Encontrando o estudante trabalhador: identificação do perfil do ingressante como ferramenta para a mitigação da evasão e retenção escolar
Fernando José Braz e Alessandro Eziquiel da Paixão
Do fenômeno da militarização das escolas e seus impactos para a educação básica brasileira
Renan Eduardo da Silva e Marlene Tirlei Koldehoff Lauermann
O compromisso político-pedagógico da educação a distância
Jeferson Anibal Gonzalez
A produtividade acadêmica e o problema da coautoria
Michel Goulart da Silva
O Massacre de Ipatinga: um novo olhar sobre as relações de trabalho e inovações no mundo da educação em 1964
Paulo Roberto de Souza
RESENHA | Entre o medo e o desconhecimento: a China fantasiosa em “Sopa de Wuhan”
Yasmim Pereira Yonekura